1ª parte da primeira entrevista que Rodrigo Pie Marcondes concedeu ao canal Sabatina Geek!
Essa foi a primeira parte da entrevista que Rodrigo Pie Marcondes concedeu ao canal sabatina geek. Ela aconteceu no dia 23/12/2018. Foi a primeira live que eu (Demetrio Alexandre Guimarães), havia feito através de hangout, com a participação de um convidado especial. A entrevista foi muito bacana e acabou me presenteando com um grande amigo que fiz na vida (meu primeiro entrevistado). Naquela época, o canal nem se chamava sabatina geek ainda! Vale a pena ler essa postagem e ficar atento à próxima, quando eu estarei postando a segunda parte!
Por ter sido a primeira entrevista, infelizmente, por falta de experiência e de conhecimentos técnicos, houve muito eco durante a transmissão (principalmente na minha fala). Felizmente, na fala do entrevistado, não ocorreu esse problema. Apesar dos pesares, essa foi uma das melhores, senão a melhor entrevista que já teve no canal.
O texto abaixo não está na íntegra. Ele precisou ser adaptado. Você poderá assistir essa entrevista na íntegra, a partir de 2021, assim que o canal sabatina geek (atualmente em manutenção para revisão de métricas e reformulação de sua programação) voltar a disponibilizar seus vídeos ao público. Eu avisarei aqui no blog quando isso for acontecer.
1ª entrevista de Rodrigo Pie Marcondes para o canal Sabatina Geek (1ª Parte)
Demetrio Alexandre Guimarães: Hoje, promete né? Porque nós vamos interagir com o artista que criou o Blindado. Blindado e Miss 10, foram os dois personagens dele que eu resenhei nos últimos dois vídeos que fiz aqui no canal. O autor estará aqui pra conversar com a gente. Ele estará conversando pelo chat. Vocês poderão fazer perguntas em relação à personagem dele, diretamente pra ele. A Miss 10 foi lançada ontem na Praia Grande. Os detalhes sobre o lançamento e como foi a movimentação quem vai contar a vocês, em primeira mão, será o próprio Rodrigo Pie. No vídeo que eu gravei sobre a Miss 10 eu já falei bastante coisa sobre a personagem. Hoje, nós temos que aproveitar que vai ter a presença do criador. Ele acabou de chegar!
Rodrigo Pie: Eu estou usando essa máscara, porque, quando eu comecei a produzir quadrinhos, oficialmente, em 2015, com publicações, eu tive o privilégio de fazer isso... De fazer o primeiro lançamento num FIQ de 2015, num festival internacional de quadrinhos, lá em Belo Horizonte, anunciando a revista Indestrutíveis 1 e Indestrutíveis 2, toda desenhada e editada pelo Marcos Gratão, em cima da minha criação, e eu me apresentava aqui nesse personagem que faz parte do meu universo, que é o Guido Van Pie. Ele está ali no meio do universo e é um personagem que eu passei o FIQ todinho usando essa máscara no momento do lançamento das minhas revistas. (Rodrigo Pie retirou sua máscara e prosseguiu com sua fala). Mas, eu sou assim...
Demetrio Alexandre Guimarães: É um prazer estar contigo aqui! Eu tenho algumas perguntas para fazer sobre sua personagem. Eu começarei falando sobre a Miss 10. Depois, nós falaremos sobre o Blindado, não tem jeito! Ele é um personagem muito bacana. Ainda mais que ele e a Miss 10 possuem uma relação bem legal. A primeira coisa que eu irei perguntar é o seguinte... Como que surgiu a ideia da Miss 10? Você aborda o tema sobre a violência contra a mulher. Você conhece alguém que sofreu esse tipo de violência? Ou, foi porque esse assunto te revolta mesmo?
Rodrigo Pie: Na verdade, Demetrio, eu realizo um trabalho de teatro há muito tempo né, e eu fui trabalhar numa ONG chamada Help, que dá assistência a mulheres que sofrem violências. E essa ONG, ela era muito diferente porque ela não só cuidava dessas mulheres, como também hospedava. Então eu não dava aula só para as mulheres né, aula de teatro, mas, também para os filhos dessas mulheres que sofreram violências. Isso me chocou demais neste período que foi entre 2012/2013. Em contrapartida surgiu uma outra ONG chamada "Mulheres 10", e essa ONG me chamou pra fazer parte e produzir a cartilha dos direitos da mulheres que sofriam violência. As mulheres, às vezes não denunciam, porque que não sabem os direitos que elas têm. É aquilo né, se você não sabe o direito que você tem, você não vai conseguir lutar por ele. Então, nós produzimos a cartilha e eu, em cima do nome da ONG chamada "Mulheres 10", eu tive a ideia de criar a Miss 10, como uma referência. Eu escrevi o roteiro e tal mas, naquele momento, a gente só conseguiu fazer uma arte pra cartilha, daí eu não consegui um desenhista pra desenhar o roteiro. Isso aconteceu felizmente, este ano, que foi através do Marcelo Mongolfin, estupendo, um parceiro desenhista e que tive o prazer e o privilégio de ter a Miss 10 lançada na arte dele.
Demetrio Alexandre Guimarães: Eu gostei muito do trabalho que você fez. É um trabalho que leva as pessoas a refletirem sobre esse tipo de violência, que infelizmente, nós acompanhamos diariamente nos jornais. Violência contra mulheres... Contra crianças... Entre outras. Eu acredito que a personagem Miss 10 pode levar os leitores, principalmente os adolescentes, a criarem essa consciência sobre respeitar mais as mulheres. Uma outra pergunta que eu quero fazer... E os nomes que você deu à personagem? O nome que ela utilizava antes de sofrer a violência, e o nome que ela passou a utilizar depois. Foram em homenagem a alguém especial? Ou foram nomes que você escolheu aleatoriamente?
Rodrigo Pie: Não. Na verdade, nada no meu universo é aleatório. Todos os nomes que utilizo dos meus personagens no Universo Don Comics, ou, são de amigos, ou, família. São sempre pessoas muito próximas. Cláudia Penha, eu uso por causa da lei Maria da Penha, mas, a personagem, ela foi em homenagem à Claudia Lima, que era presidente da ONG Mulheres 10. E a Ana Júlia, que é a outra identidade que ela passa a adotar, consequentemente, é uma homenagem à minha esposa que é Juliana né, eu só inverti o nome. E assim são os personagens né, eu homenageio meus amigos e os inimigos também, né, os inimigos acabam se tornando vilões. Os amigos são os heróis.
Demetrio Alexandre Guimarães: Interessante, né? Eu também tenho esse mesmo tipo de pensamentos quando crio os meus personagens, mas, muitos nomes que eu utilizo são aleatórios. Voltando a falar do seu trabalho, e aquela cena de estupro? Foi uma cena de violência que me deixou bem chocado. A gente sabe que existe esse tipo de coisa no mundo, e até pior! A cena foi criada por você, ou inspirada em algum noticiário, filme ou algo parecido? Eu achei aquela cena realmente perturbadora. Não pelo desenho em si, mas, pelo contexto. Imaginar um mulher passando por aquela situação, é muito triste. Fale um pouco sobre aquela cena!
Rodrigo Pie: Na verdade, Demetrio, é assim... Infelizmente, a violência sexual, ela existe, ela acontece, ela está aí. Eu não vi num filme, embora nós temos filmes que demonstram cenas dessa forma, mas, isso é bem próximo de testemunhos de pessoas, de alunos que eu já tive no teatro, que passaram por isso. Jovens que passaram por isso, e, é muito triste, você ouvir esse tipo de coisa, né. Então, eu vi e enxerguei a possibilidade em um quadrinho, assim como no teatro, de realizar um trabalho nesse sentido, de questionar e levantar uma reflexão a respeito disso. Eu acho que toda arte, ela tem que ser uma arte reflexiva, uma arte em busca de uma transformação do outro. Não importa se é quadrinho,cinema,teatro,uma pintura ou artes plásticas,se é uma escultura, se é um poema... O dever do artista é, na minha opinião, deixando bem claro... É ser um fomentador de reflexões de idéias, um agente de transformação, acima de tudo. Foi a partir de depoimentos de alunos que eu fiz um projeto na cidade aqui onde eu vivo, Praia Grande, chamado Juventude Legal, que nós atendemos entre 2014 e 2016, por ano, de doze, quinze, a dezesseis mil jovens. E os depoimentos que nós ouvimos na construção e nas improvisações de cenas... Eu dava uma aula e tinha que montar uma cena pra finalizar o workshop que estava dando nas redes escolares do ensino médio aqui da minha cidade. Você tinha depoimentos em relação à violência sexual que iam até além dessa temática, que também é sobre o preconceito e as pressões ou preconceito da homofobia e da transfobia também. São coisas que aqui, que eu tento trazer o meu universo de discutir. Eu já tinha a Miss 10 pronta nessa discussão. Foi a partir dos depoimentos das mulheres que participavam dessas ONGS que eu trabalhava, junto a esses jovens, que eu vi... Agora, é o momento de voltar a trazer a Miss 10, à tona, à luz. De levantar essa discussão, essa bandeira para discutirmos isso através de uma heroína. Embora, quando o leitor adquirir a revista, ele vai ver que ela rompe com uma questão ética dos heróis de capa e espada, da jornada do herói, no final da revista. Mas, eu não vou dizer qual é esse rompimento, mas ela rompe. Ela quebra uma questão ética, porque deixa de ser justiça o que ela faz. Mas, é pelo instinto, da raiva e da ira, de tudo o que ela perdeu, e ela perdeu tudo! Ela perdeu toda a sua família! Então, talvez, dentro desse contexto, o que ela faz é imoral e antiético, mas, tem uma justificativa, embora também podemos questionar sobre isso, e isso é a questão... Nós podemos refletir sobre tudo. Eu, como roteirista, também quis anotar. Ela está certa ou está errada em fazer o que ela fez, né?
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